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Saúde no Judiciário reforça importância de falar sobre o suicídio

Maria Adélia Paiva, da Divisão Psicossocial do TJMA, alerta que o tema deve ser abordado o ano inteiro, não apenas em setembro, mês de campanha de prevenção

06/11/2023
Ascom/TJMA

Setembro e outubro já passaram, mas a campanha Saúde no Judiciário desta semana alerta para a importância de falar sobre o suicídio não apenas em setembro, mas em todo o ano. A observação é da psicóloga Maria Adélia Paiva, da Divisão Psicossocial do Tribunal de Justiça do Maranhão.

De acordo com a profissional, o suicídio é um fenômeno multifatorial de difícil compreensão, ou seja, é influenciado por vários fatores, como biológicos, psíquicos, culturais, econômicos e sociais, sendo considerado um importante problema de saúde pública, que pode ser prevenido.

“Mas para que haja prevenção, é necessário a nossa conscientização, enquanto sociedade, acerca do assunto. Portanto, precisamos levantar discussões sobre o tema com responsabilidade e informação correta, abrindo espaço para a comunicação, em uma sociedade que ainda trata o suicídio como assunto proibido”, enfatiza.

Maria Adélia Paiva diz que os preconceitos que giram em torno da formação de ideias suicidas e dos transtornos mentais podem impedir que a pessoa procure ajuda. 

“É comum escutarmos que os transtornos psiquiátricos tratam-se de ‘falta de fé’, de ‘fraqueza’, entre outras expressões. Durante séculos, por motivos culturais, o suicídio foi considerado um ‘tabu’ e, em muitas religiões, ainda é considerado como um pecado. Uma expressão muito escutada no senso comum é ‘quem fala não faz’, e isso não é verdade. Esse tipo de fala muitas vezes trata-se de um pedido de ajuda”.

Diante de tantos mitos e incompreensões, a psicóloga relata que muitas pessoas se sentem envergonhadas em pedir ajuda. Porém, é essencial que estas pessoas sejam acolhidas, sem julgamentos, de modo que sintam liberdade para falar abertamente sobre o assunto.

“Quando a pessoa consegue expor a sua dor, falar sobre seus pensamentos e ideações, ela aumenta a chance de visualizar novas possibilidades para aqueles problemas e também aumenta a probabilidade de ser encaminhada a um profissional especializado para receber a ajuda devida”, explica.

A profissional conta que, neste contexto, destaca-se a Logoterapia, teoria criada pelo psiquiatra austríaco Viktor Frankl, como tendo papel importante na prevenção do suicídio, por ter a percepção de sentido na vida como questão central. Estudos científicos apontam este sentido como um fator psicossocial associado à resiliência, pois está relacionado à capacidade de suportar situações adversas. De acordo com Frankl, o sentido pode ser descoberto por três caminhos: primeiro, na experiência de oferecer algo ao mundo ou ao outro, através do que se faz ou se cria de maneira única; segundo, nas experiências que se vive, na abertura para receber riquezas culturais, artísticas, naturais, ou advindas das relações humanas, amando alguém; por último, diante do sofrimento de um destino inevitável, pois o homem é capaz de transformar uma situação difícil em realização, ao adotar uma atitude em que é possível crescer humanamente, enfrentando e superando os desafios que a vida apresenta.
 
A psicóloga frisa que o sentido é único e singular, deste modo, somente a própria pessoa pode descobrir o que a move em sua existência. E este sentido pode ser encontrado dia a dia e de hora em hora, não só em fatos grandiosos, mas em pequenas realizações diárias.

“A vida exige, a todo momento, escolhas conscientes e respostas, diante dos acontecimentos. Por isso, é importante adotar uma atitude ativa diante dela. De outro modo, apenas a deixaremos passar por nós. Segundo o escritor e psicanalista Contardo Calligaris, para desfrutar da vida, é necessário manter um esforço constante de atenção a ela, pois as experiências da vida não se resumem às que nos fazem sorrir, mas todas elas merecem ser vividas com intensidade”, alerta Maria Adélia Paiva.

“É certo que não podemos determinar as condições da nossa existência e que a vida humana também inclui experiências dolorosas, acontecem conflitos, pessoas falecem, ficamos doentes, entre outras coisas. Os problemas fazem parte da vida”, acrescenta.

Para Frankl, diz a psicóloga, certa dose de conflito é normal e sadia, e a saúde mental está baseada na tensão entre aquilo que foi alcançado e aquilo que ainda deveria se alcançar ou entre o que se é e o que se deveria vir a ser. 

“Essa tensão é constitutiva do ser humano e, por isso, essencial à saúde mental, que não se confunde com bem-estar constante: ‘O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas, antes, a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas, antes, o desafio de um sentido em potencial à espera de seu cumprimento’”, aponta. 

“O sofrimento é próprio da existência. Sentir tristeza é normal, mas as coisas mudam e não nos sentiremos da mesma forma para sempre. Existem outras formas de resolver, em vida, questões difíceis e existe tratamento para os transtornos psiquiátricos e ajuda para o sofrimento psíquico. Por isso, diante de sinais de alerta como: acreditar que não existe uma solução para o que você está vivendo, não demonstrar interesse em atividades que antes gostava de realizar, mudanças bruscas de humor, isolamento social, falas autodepreciativas - ‘eu faço tudo errado’, ‘nada dá certo para mim’, ‘quero acabar com tudo’ –, não tenha vergonha de pedir ajuda e de buscar profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. E se você percebe estes sinais em outra pessoa, acolha, ouça com atenção e sem julgamentos, entre em contato com alguém que seja da confiança dela, mediante consentimento, e a incentive a buscar ajuda especializada”, conclui Maria Adélia Paiva.

Lugares onde é possível buscar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV) - Ligações gratuitas para número 188 (24 horas);

Serviços públicos de saúde: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidade Básica de Saúde (UBS);

Divisão Psicossocial do TJMA: (98) 3261-6238 / 3261-6242 / divpsico@tjma.jus.br

Agência TJMA de Notícias
asscom@tjma.jus.br

 

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