Poder Judiciário/Mídias/Notícias

O sentido da vida na prevenção da automutilação e do suicídio

A abordagem do tema foi apresentada em artigo pela psicóloga do TJMA, Tatiana de Carvalho

Publicado em 12 de Nov de 2020, 17h52. Atualizado em 12 de Nov de 2020, 17h54

Com o intuito de trazer à discussão as questões que envolvem o suicídio e conscientizar a população sobre esse grave problema, afim de apresentar formas de evitá-lo, o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA) iniciou, desde o dia 1º de setembro, a Campanha de Prevenção ao Suicídio de Valorização da Vida “Escolha Viver!”.

A iniciativa, com anuência do presidente da Corte estadual, desembargador Lourival Serejo – que faz parte da campanha nacional Setembro Amarelo – apresenta no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, nesta quinta-feira, 10 de setembro, reflexões provocadas no artigo da psicóloga do TJMA, Tatiana Oliveira de Carvalho, com fundamento nas ideias de Viktor Emil Frankl (2011, 2016, 2019), psiquiatra vienense fundador da Logoterapia, uma psicoterapia centrada no sentido da vida.

Com o título “O Sentido da Vida na Prevenção da Automutilação e do Suicídio”, o artigo científico visa “provocar uma reflexão em uma direção ainda pouco explorada: tomar o sentido da vida como um recurso fundamental na prevenção da automutilação e do suicídio”.

A psicóloga explica que a automutilação ou suicídio são formas de autoagressão que estão se tornando mais frequentes. “Compreender esses comportamentos para preveni-los tem ocupado diversos segmentos da sociedade, como educadores, profissionais de saúde mental, formadores religiosos, pessoas que se automutilam ou já tentaram suicídio, seus familiares e amigos”, atesta.

Tatiana de Carvalho ressalta que o ser humano é o único ser capaz de indagar pelo sentido de sua própria vida, e mesmo quando duvida de tal sentido, está diante da possibilidade de escolher qual postura tomar diante dessa questão. “Se podemos responder livremente, somos responsáveis pela configuração que damos a nossa vida. Por isso a vida nunca perde seu sentido incondicional, já que sempre podemos fazer novas escolhas e com isso preencher nossa existência com valores”, frisa.

Nesse sentido, ela ressalta que está ao alcance do ser humano mudar as situações em volta, quando necessário, ou mudar a si mesmo, diante do que não se pode mudar. “Portanto, o valor da vida humana não se perde, mesmo quando enfrentamos situações difíceis e dolorosas. Em cada situação vivida, o ser humano é capaz de perceber qual escolha tem mais sentido, pois é capaz de captar os valores contidos nas circunstâncias vivenciadas”, entende.

VAZIO EXISTENCIAL

Segundo a psicóloga, quando aquilo que tanto se busca não pôde ser alcançado, ou quando o ser humano não descobre o que deve ser buscado, ou o que se conquista de valoroso foi perdido, isso pode acarretar em uma sensação de que a vida não tem, nunca teve ou perdeu seu sentido.

“O que experimentamos nessas circunstâncias é o que chamamos de vazio existencial, ou seja, o sentimento de ausência de sentido na vida. Ao contrário do que muitas vezes pensamos, o vazio existencial não é uma doença, é algo que pode ser experimentado por qualquer pessoa”, explica a psicóloga, acrescentando que “a depender da nossa atitude, essa é uma vivência que pode vir a provocar adoecimento mental ou deturpação na nossa personalidade, afetando a forma como percebermos a nós mesmos, as pessoas em nossa volta e a própria vida”.

Tatiana de Araújo elucida que o fechar-se em si mesmo torna o ser humano mais vulnerável às manifestações danosas de vazio existencial. Ela destaca que essas manifestações “em casos extremos se expressam na dependência química ou outras formas de entorpecimento, na agressividade ou banalização da violência, na depressão com suas diversas formas de autoagressão, incluindo a automutilação e o suicídio”.

Dessa forma, o abrir-se para o mundo representa a superação do vazio existencial. “Quando nos abrimos ao mundo, saímos de nós mesmos, engajando-nos em ações, experiências e atitudes que tenham real valor e encontramos sentido, com isso evitamos ou superamos o vazio existencial”, frisa a psicóloga.

TRÊS CAMINHOS

A psicóloga Tatiana de Araújo aponta três caminhos possíveis, acessíveis a qualquer pessoa, para se descobrir o sentido da vida, são eles: valores criativos, valores vivenciais e valores atitudinais.

Segundo o artigo, os valores criativos correspondem às diversas possibilidades de se encontrar sentido ao criar algo relevante a partir do modo único de ser e desempenhar as tarefas que cabem a cada um, deixando sua contribuição pessoal no mundo. “A criatividade humana, potencial que todos nós possuímos, é um importante recurso que está em nossas mãos para a realização desses valores. Ela pode se manifestar nas pequenas tarefas do dia-a-dia, na solução de problemas familiares e comunitários, nas atividades profissionais e nas grandes criações artísticas, científicas ou em outras áreas”, ressalta.

O segundo caminho diz respeito aos valores vivenciais, que se realizam quando o ser humano se abre para receber o que o mundo oferece. “Isso acontece quando contemplamos o belo, na natureza ou na arte, e quando estabelecemos relações humanas, nas quais podemos experimentar o amor, a bondade, a verdade, o cuidado, e tantos outros valores que se concretizam quando nos abrimos ao aprofundamento dos vínculos afetivos com as pessoas de nossas vidas, com confiança”, diz.

Por último, o terceiro caminho fala dos valores atitudinais, que independem dos valores criativos e vivenciais. “Dizem respeito às atitudes afirmativas da vida, que podemos ter diante de situações dolorosas, como aquelas provocadas por doenças, perdas de coisas importantes e pessoas queridas, arrependimentos ou eminência da morte. Refletem nossa capacidade humana de superação e de encontrar sentido mesmo no sofrimento, ao enfrentar situações críticas com atitudes positivas, como esperança, heroísmo e humor, que levam ao amadurecimento da nossa personalidade”, orienta.

A psicóloga conclui discorrendo sobre o caráter pessoal da descoberta do sentido contido em cada situação do dia-a-dia, que é fator relevante na prevenção da automutilação e do suicídio. “Para que possamos utilizar esse recurso com êxito, precisamos enxergar a nós mesmos como pessoas capazes de ir além de nossos impulsos e condicionamentos, aguçando nossa percepção para captar as oportunidades de realização dos valores que fazem parte da nossa existência, optando por consumar tais valores e assim tornando a vida cada vez mais plena de sentido”, conclui.

PROGRAMAÇÃO

Para discutir o tema, o Tribunal de Justiça, por meio da Divisão Psicossocial, realiza também no dia 17 de setembro, às 10h, no Instagram @tjmaoficial, a live “Setembro Amarelo e a prevenção ao suicídio e à automutilação em adolescentes: possibilidades de valorização da vida”, com a psicóloga Raíssa Palhano e moderação de Railson Rodrigues (analista judiciário – psicólogo).

Além disso, o Judiciário discutirá o tema com os servidores, por meio de um bate-papo, com o tema "Dialogando sobre o sentido da vida: estratégias de prevenção em saúde mental”, com os palestrantes Eliandro Romulo Cruz Araujo e Tatiana Oliveira de Carvalho. O evento virtual acontecerá no dia 24 de setembro, às 14h, pela plataforma Zoom.

*publicada em 10 de setembro de 2020

 

Daniele Limeira

Comunicação Social do TJMA
asscom@tjma.jus.br 

GALERIA DE FOTOS