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Judiciário discute com Executivo reserva de vagas para egressos(as) do sistema prisional

Publicado em 29 de Mar de 2023, 11h00. Atualizado em 29 de Mar de 2023, 16h56
Por Juliana Mendes

Com o objetivo de promover medidas para reintegração social de pessoas privadas de liberdade e egressas do sistema carcerário por meio da garantia de emprego e renda, o Poder Judiciário, através da Unidade de Monitoramento do Sistema Carcerário e Socioeducativo (UMF/TJMA), realizou nesta terça-feira (28), no auditório da Associação dos Magistrados (AMMA), reunião com representantes das Secretarias estaduais do Poder Executivo, para dialogar sobre a reserva legal de vagas de trabalho para esse público nas licitações promovidas pelo Estado do Maranhão. 

A reserva de vagas é garantida pelo Decreto Nº 37.806/2022, que regulamenta a Lei 10.182/2014 - que criou a "Política Estadual Começar de Novo”, dispondo sobre a obrigatoriedade da reserva das vagas para a admissão de pessoas privadas de liberdade e egressas do sistema penitenciário nas contratações de obras e serviços pelo Estado do Maranhão.

Participaram o coordenador-geral da UMF/TJMA, desembargador Ronaldo Maciel; o juiz coordenador do sistema carcerário, Douglas de Melo Martins; a secretária adjunta de Atendimento e Humanização Penitenciária, Kelly Cristina Carvalho; a coordenadora local do programa Fazendo Justiça (CNJ), Claudia Gouveia; procurador do Ministério Público do Trabalho Luciano Aragão (online); o presidente da Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA), juiz Holídice Cantanhede; o coordenador executivo da UMF, Miguel Moyses; o chefe da Divisão Começar de Novo (UMF), André Barreto; a assistente social Jercenilde Cunha, além de servidores(as) e representantes das instituições convidadas. 

O encontro objetivou dialogar com os gestores estaduais e suas equipes (jurídico, licitações e contratos) sobre a aplicação da Lei 10.182/2014 à luz do Decreto nº 37.806/2022. Em setembro de 2022, com a  publicação do Decreto 37.806/2022, a UMF/TJMA realizou a primeira reunião com os gestores estaduais, retomando nesta data o diálogo em virtude da mudança de gestão no Poder Executivo. 

O desembargador Ronaldo Maciel pontuou o avanço da gestão do sistema prisional do estado do Maranhão nos últimos anos, alcançando uma realidade onde o cumprimento de pena apresenta uma gestão que é exemplo para outros estados; e destacou que a reserva de vagas prevista Lei 10.182/2014 e Decreto nº 37.806/2022 busca combater o preconceito sofrido pelo público do sistema prisional no processo de reinserção ao mercado de trabalho, representando uma política criminal que trabalha para a redução da reincidência criminal. “Precisamos colocar a mão para equilibrar a balança, na medida em que reduzimos a reincidência nós estamos reduzindo a violência, quando utilizamos políticas públicas para reinserir pessoas egressas no mercado de trabalho e evitando que retornem à situação anterior de vulnerabilidade”; observou.

O juiz coordenador do sistema carcerário, Douglas de Melo Martins, ressaltou que a organização do sistema prisional contribui para evitar consequências violentas que recaem sobre toda a sociedade, a exemplo dos ataques que vêm ocorrendo no estado do Rio Grande do Norte, defendendo a prevenção como solução razoável. “Precisamos garantir o cumprimento rigoroso da lei e das penas contra quem comete delitos, mas garantindo os direitos das pessoas presas com o apoio da sociedade e instituições, e precisamos da participação das instituições no cumprimento imediato desta legislação”, frisou. 

A coordenadora local do programa Fazendo Justiça, Cláudio Gouveia, reforçou o trabalho do programa junto aos tribunais brasileiros na perspectiva de estimular a reinserção social de pessoas que passam pelo sistema prisional, ressaltando a importância das parcerias para que a pessoa que passou pelo cárcere tenha direito de reconstruir sua vida fora dele. “No Brasil não temos prisão perpétua e as pessoas que entram vão sair em algum momento do sistema penitenciário, então o que estamos fazendo não é filantropia mas sim garantia de acesso a direitos humanos para essas pessoas e seus familiares”, avaliou.

“Hoje damos um passo decisivo para efetivação de uma lei que é tão essencial. As pessoas que saem do sistema prisional entram em uma lista de concorrência com as pessoas que não passaram, e a lei cria a possibilidade de inserção dessas pessoas no mercado, com esse trabalho estamos cumprindo a lei e as obrigações do Estado e nos preocupando com a sociedade”, observou a secretária adjunta de Atendimento e Humanização Penitenciária, Kelly Cristina Carvalho.

Na oportunidade, a SEAP, por meio do secretário adjunto de Trabalho e Renda Prisional, Antônio Felipe Gomes Duarte, realizou uma apresentação das informações sobre Frentes de Trabalho e Renda voltadas às pessoas em privação de liberdade, especialmente do regime semiaberto e as dificuldades de inclusão desse público quando se tornam egressos(as), que totaliza mais de oito mil reeducandos trabalhando em oficinas e frente de trabalho como fábrica de móveis, cadeiras e blocos, malharias, padarias e artesanato. 

A gestora de Atendimento e Humanização Penitenciária da SEAP, Ingrid Matos, apresentou o fluxo de aplicação da lei com base no Decreto 37.806/2022, que culmina na fiscalização realizada pela UMF/TJMA e Ministério Público do Trabalho (MPT).

O procurador do Trabalho Luciano Aragão, do Ministério Público do Trabalho (MPT) parabenizou a UMF e TJMA pela iniciativa de fomentar o cumprimento da reserva legal de vagas de trabalho junto aos demais órgãos estaduais, avaliando que a contratação de pessoas egressas traz benefícios para toda a sociedade ao reduzir os índices de violência e garantir o verdadeiro escopo do sistema prisional  - a ressocialização, e permitindo que as pessoas egressas alcancem um trabalho digno e possam romper com o ciclo de violência. “Nós do MPT iremos fiscalizar e monitorar o cumprimento da legislação, e em caso de descumprimento serão instaurados inquéritos civis para apurar a razão e exigir a efetivação da lei”, afirmou. 

“Não podemos perder de vista nosso papel vanguardista relacionado aos direitos humanos, principalmente hoje com as redes sociais e rápido compartilhamento de informações, onde vemos muitas discussões por parte de pessoas que não conhecem o assunto em relação aos direitos humanos e reintegração social”, observou o presidente da AMMA, juiz Holídice Barros. 

“É uma iniciativa extremamente importante, quando temos políticas de direitos humanos de incentivo à reinserção social pensando todo o sistema, com o Estado considerando que as pessoas vão retornar à sociedade, garantimos um convívio melhor e pleno”, avaliou a assessora jurídica da Secretaria estadual de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), Laisa Braga. 
 

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