A descoberta do efeito preventivo do flúor em relação à cárie dentária o tornou o agente de escolha no enfrentamento a essa doença em todo o mundo. E é justamente sobre a importância do flúor o tema da campanha Saúde Bucal do mês de maio, abordado por Taíssa Leite, da Divisão Odontológica do Tribunal de Justiça do Maranhão. A odontóloga explica de que forma o elemento atua para aumentar a proteção dos dentes e como ter acesso a ele.
A campanha Dicas de Saúde Bucal, criada pelo TJMA, é uma forma de compartilhar informações e dicas de saúde para a população em geral, não apenas para servidores(as) e magistrados(as) do Poder Judiciário. A Divisão Odontológica é chefiada pelo odontólogo Rafael Silva Santos.
ABUNDANTE
Taíssa Leite destaca que o flúor é um mineral amplamente distribuído na natureza e o 13º elemento químico mais abundante na crosta terrestre.
“Os seus íons – os fluoretos – são naturalmente encontrados no ambiente – ar, água e solo – e a sua forma industrializada, como aditivo químico, é facilmente disponibilizada em produtos que utilizamos em nosso dia a dia, desde alimentos até produtos de higiene”, explica.
A odontóloga lembra que os primeiros registros oficiais da eficácia do flúor na prevenção da cárie dentária datam dos anos de 1930, quando pesquisadores verificaram que crianças norte-americanas, residentes em cidades com uma concentração específica de flúor natural na água de abastecimento, tinham significativamente menos cáries, quando comparadas àquelas que viviam em áreas com teor menor de flúor ou mesmo sem água naturalmente fluoretada. No Brasil, os primeiros estudos que confirmaram tal fato foram realizados entre os anos de 1950 e 1960.
Segundo a profissional, em 1958, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a fluoretação da água de abastecimento público como medida de saúde pública no controle da doença cárie e sugeriu o desenvolvimento de pesquisas de outros métodos de aplicação tópica de flúor para serem utilizados, de forma controlada, em locais onde não fosse possível a fluoretação da água de abastecimento. Daí ele ter se tornado o agente escolhido para enfrentar a cárie em todo o mundo.
ATUAÇÃO
Taíssa Leite esclarece, de maneira resumida, de que forma o flúor atua para aumentar a proteção dos dentes contra a doença cárie.
“Podemos dizer que o processo de cárie se inicia quando bactérias cariogênicas ‘se alimentam’ dos carboidratos presentes na boca e produzem ácidos que dissolvem a superfície do esmalte dentário. Se não estabilizamos esse ciclo, ocorre uma perda excessiva de minerais da superfície do dente, que, sem a substituição adequada, resulta no ‘aparecimento’ da cárie”, diz.
A odontóloga relata que, na realidade, a partir de um determinado momento, essa perda de minerais atinge tal grau, que termina por resultar na formação de uma cavidade, cuja evolução, em casos extremos, corresponde à destruição de toda coroa dentária.
“Mas, atenção, a cárie se inicia como um processo de desmineralização microscópico do esmalte e tem toda uma evolução clínica. Com base nesse conceito, a doença cárie vai desde uma pequena mancha branca opaca na superfície do esmalte – que pode ser diagnosticada precocemente em visitas periódicas ao dentista – até alcançar aquele aspecto de cavidade escurecida e ampla, que preocupa a maioria da população”, alerta Taíssa Leite.
Segundo ela, o flúor atua diretamente nos processos de desmineralização e remineralização dos dentes, evitando ou mesmo estabilizando o processo de cárie em evolução.
“Está cientificamente comprovado que o flúor é capaz de se agregar à superfície dentária e, juntamente ao cálcio e o fosfato, resultarem em um componente mineral mais resistente à dissolução ácida, causada pelas bactérias cariogênicas. Além disso, pesquisas têm demonstrado a atividade antimicrobiana do flúor, uma vez que, na presença do flúor, há uma redução do metabolismo das bactérias causadoras da cárie”, acrescenta.
ACESSO
A odontóloga narra que as principais formas de se ter acesso seguro ao flúor são por meio: da água de abastecimento público nas regiões (municípios) em que há serviço de tratamento de água; dos produtos de higiene bucal em que há adição de flúor à sua fórmula (especialmente os cremes dentais) e da aplicação tópica de flúor, em consultas periódicas ao dentista.
Conta que, após a descoberta dos benefícios do flúor natural na água de abastecimento de algumas cidades, a OMS desenvolveu um programa para a promoção da fluoretação da água de abastecimento de comunidades, apresentado na 25ª Assembleia Mundial de Saúde, em 1975, que enfatizou a importância de se utilizar o flúor em concentrações adequadas na água de abastecimento.
Esse programa obteve aprovação, na época, por unanimidade, dos 148 países-membros. O Brasil se antecipou a essa recomendação da OMS e, desde 1974, a fluoretação da água de abastecimento público passou a ser regulamentada por lei específica (Lei Federal Nº 6.050, de 24 de maio de 1974) e a ser obrigatória para as cidades com Estação de Tratamento de Água.
A profissional da Divisão Odontológica enfatiza que, atualmente, o acesso à água tratada e fluoretada é fundamental para as condições de saúde da população. Políticas públicas que garantam a implantação e controle da fluoretação das águas são a forma mais abrangente e socialmente justa de acesso ao flúor.
“O flúor presente na água de abastecimento é especialmente benéfico para crianças, uma vez que a ingestão desse mineral em pequenas doses faz com que ele seja absorvido pelo trato gastrointestinal, entre na corrente sanguínea e se incorpore à estrutura dos dentes permanentes em desenvolvimento”, explica.
Um aspecto importante a ser considerado na disponibilidade do flúor na água, diz a odontóloga, especialmente para crianças, é o uso rotineiro de água mineral para consumo diário e preparação de alimentos. As águas de fontes minerais são entendidas como mais adequadas para o consumo, entretanto, algumas delas não apresentam flúor em sua composição ou apresentam esse mineral em dosagens mais baixas àquelas que trazem benefício para estrutura dentária.
PRODUTOS
Taíssa Leite relata que os produtos de higiene bucal que contêm flúor adicionado à sua fórmula, especialmente os cremes dentais, são benéficos na prevenção da doença cárie, porque, quando utilizados rotineiramente, fazem com que o flúor seja incorporado à saliva.
“O esmalte dentário, naturalmente em contato com a saliva ‘enriquecida’, acaba por absorver esse flúor circulante. Essa ‘absorção’ do flúor pelo esmalte dentário nada mais é do que a junção desse mineral com cristais de cálcio e fosfato presentes na superfície do dente, resultando, dessa junção, um novo mineral, a fluorapatita, reconhecidamente mais resistente à dissolução ácida causada pelas bactérias cariogênicas”, diz.
Em relação a uma dúvida comum apresentada pelos pais, sobre a partir de qual idade deve-se usar creme dental fluoretado para crianças, a odontóloga afirma que há evidências favoráveis para o uso de creme dental fluoretado para bebês, na concentração convencional (1.000 ppm), desde o nascimento do primeiro dente e, atualmente, esta é a recomendação das Associações Americana e Brasileira de Odontopediatria. As principais ressalvas em relação a essa conduta são a quantidade de creme dental na escova, que deve ser menor que um grão de arroz, e a frequência de uso, que deve ser de, no máximo, duas vezes por dia, para crianças que não sabem cuspir.
Outro alerta da odontóloga é de que as formulações com altas concentrações de flúor, em geral sob a forma de gel, espuma ou verniz, são de uso profissional e empregadas pelos dentistas de forma segura, em procedimentos odontológicos de rotina. A aplicação tópica de flúor e todos os seus benefícios, que vão desde a disponibilização de flúor na saliva, passando pela estabilização do processo de cárie e redução da sensibilidade dentária, é um procedimento de rotina adotado pelos cirurgiões-dentistas do Tribunal de Justiça do Maranhão.
DICAS
“Embora se tenha dado ênfase à relação e importância do flúor na prevenção da doença cárie, ele não será milagroso e nem o único responsável pelo processo de controle da doença. O flúor é um forte aliado, mas não podemos deixar de destacar a tríade: bons hábitos de higiene bucal – escovação adequada após as refeições principais e o uso do fio dental –, dieta equilibrada – reduzindo o consumo de carboidratos refinados – e visitas periódicas ao dentista como essenciais no controle da doença”, ensina Taíssa Leite.
E ela acrescenta que, como no dito popular, tudo em excesso faz mal. “O uso descontrolado do flúor, em dosagens e frequências acima das recomendadas, pode trazer problemas à saúde que vão desde a fluorose – doença que afeta a estrutura dentária e compromete desde a cor do esmalte até a integridade e resistência do dente como um todo – até a toxicidade crônica e aguda. Assuntos interessantes para serem abordados em uma próxima sessão de dicas de saúde bucal”, finalizou.
Agência TJMA de Notícias
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