Poder Judiciário/saude

Dor no peito, um sintoma de muitas variáveis

 

Gardênia Nogueira e Silva – Analista Judiciário – médica cardiologista

 

Uma dor no peito não significa necessariamente um infarto do miocárdio.

A maioria das pessoas que procuram atendimento médico em serviços de emergência devido à dor no peito não está tendo um infarto, mas sim problemas menos graves, relacionados a outros órgãos como o aparelho gastrointestinal, dores musculares ou até crises de ansiedade. Entretanto, como a dor no peito pode significar um problema grave de saúde, com risco de morte, sempre vale a pena investigar.

Existem basicamente dois fatores primordiais quando se avalia clinicamente um individuo com dor no peito: as características da dor e a história clinicam do paciente.

As características da dor no peito de origem cardíaca são:

- Apresenta-se como uma sensação de peso ou forte sensação de aperto (o paciente costuma descrevê-la encostando o punho fechado em frente ao peito);

- Ser desencadeada por esforço físico ou stress emocional;

- Ser dor difusa no lado esquerdo do peito e no centro do peito, frequentemente com irradiação para braço esquerdo, costas e/ou pescoço;

- Vir acompanhada de suores, palpitações, falta de ar, palidez ou queda da pressão arterial;

- Ser uma dor que dura vários minutos;

- Ser uma dor que não cede com uso de analgésicos comuns;

- Pode vir até em casos extremos com perda de consciência.

Embora o infarto na maioria das vezes se apresente como uma dor intensa e muito incomodativa, em até um terço dos casos ocorre como um leve desconforto, fato esse muito comum entre diabéticos e idosos.

Chamamos a atenção para algumas características da dor no peito contrárias às de origem cardíaca:

- Duração de poucos segundos;

- Não estar relacionada ao esforço ou stress emocional;

- Aparece e desaparece sem causa aparente;

- De localização precisa (paciente aponta exatamente onde dói; piora com movimentação dos braços e tórax ou compressão local)

- Piora com a respiração;

- Sem outros sintomas associados como falta de ar, suores, queda da pressão, palpitações.

A história clínica do paciente com dor no peito também é importante, quanto mais fatores de risco para doença cardiovascular, maiores chances de indicar um evento grave.

Os principais fatores de risco que devem ser avaliados em paciente com dor no peito são: idade maior de 40 anos, história de já ter tido infarto, ser sedentário, ter aumento de colesterol ou triglicerídeos, ter na família história de infarto ou morte súbita, ser ou ter sido fumante, ser obeso, ter hipertensão arterial, ser diabético, ter passado de doença renal crônica, fazer uso de drogas como cocaína ou crack, etc.

A dor no peito traz consigo o medo do infarto, porém existem dezenas de causas para dor no peito, as vezes mais graves que o infarto. Pode ser causada por doença em outros órgãos como esôfago, pulmões, pleura, grandes vasos como a aorta, costelas, músculos do tórax, cartilagens, etc.

Até alguns órgãos do abdômen podem causar dor no peito, entre eles vesícula, estômago, pâncreas.

Pessoas com crises de ansiedade, síndrome do pânico, depressão também podem apresentar dor no peito com frequência. Cerca de um terço daqueles atendimentos nas emergências por dor no peito são por causas psicológicas ou psiquiátricas.

Como pode ser visto o diagnóstico de dor no peito é bem complexo. Na dúvida, o ideal é procurar um médico, principalmente se a dor for um sintoma novo, ou seja, diferente das outras que sentiu.

Lembrar que apenas o médico é capaz de estabelecer os diagnósticos para sua dor no peito, se necessário, irá solicitar exames para diagnosticar ou descartar as múltiplas causas da dor.