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Campanha fala sobre como prevenir a fluorose dentária

Taíssa Leite, da Divisão Odontológica do TJMA, explica que o excesso de flúor pode comprometer a estrutura do esmalte dentário e o que deve ser feito para evitar

Publicado em 30 de Set de 2022, 8h00. Atualizado em 30 de Set de 2022, 12h22
Por Ascom/TJMA

A campanha Dicas de Saúde Bucal deste mês trata da Fluorose, problema que surge nos dentes em razão do excesso de flúor. A odontóloga Taíssa Helena Martins Leite, da Divisão Odontológica do Tribunal de Justiça do Maranhão, lembra que, na edição da campanha em maio, ela falou da importância e dos benefícios do flúor para a saúde bucal, especialmente na prevenção e controle da doença cárie. Mas destaca que, como tudo em excesso pode não ter o efeito desejado, isso também acontece com o flúor em relação à possibilidade de comprometimento da estrutura do esmalte dentário – a fluorose dentária.

Dicas de Saúde Bucal é uma campanha criada pelo TJMA, como forma de compartilhar informações e dicas de saúde para a população em geral, não apenas para servidores(as) e magistrados(as) do Poder Judiciário. A Divisão Odontológica é chefiada pelo odontólogo Rafael Silva Santos.

A dentista conta que, na comunidade científica, a fluorose dentária é entendida como uma complicação que acomete a estrutura do esmalte dentário, causada pela ingestão excessiva e prolongada de flúor, durante o período de calcificação dos dentes.

“Ou seja, a fluorose dentária origina-se da exposição do germe dentário, durante o seu processo de formação, a altas concentrações do íon flúor. Como consequência, temos defeitos de mineralização do esmalte, com severidade diretamente associada à quantidade e frequência ingerida’, detalha.

Taíssa Leite explica que que a fluorose dental se caracteriza, clinicamente, pela presença de manchas opacas no esmalte dentário que podem variar de esbranquiçadas, amareladas e até acastanhadas, dependendo do grau de severidade. Nos casos mais severos, o esmalte também se torna poroso e frágil, o que, a longo prazo, pode resultar em fraturas e hipersensibilidade por exposição da dentina. 

Acrescenta que a simetria dessas alterações em dentes “irmãos” é também um achado comum nos casos de fluorose, exatamente pelo fato de essa condição ser uma interferência na calcificação do esmalte e, em geral, dentes irmãos se calcificam mais ou menos na mesma época. 

“Quando falamos em acometimento dos dentes no período de calcificação do esmalte, isso significa que os dentes sofrem alterações de sua estrutura, por influência do flúor, antes de ‘nascerem’ (aparecerem na boca), de tal modo que a fluorose só poderá ser diagnosticada após o dente irromper na cavidade bucal”, ensina a profissional.

A odontóloga acrescenta que, por ser uma complicação no período de formação dos dentes, a fluorose é menos prevalente nos dentes decíduos (de leite), uma vez que esses dentes começam a se calcificar na vida intrauterina e, ao nascimento do bebê, espera-se que todos os dentes decíduos já tenham finalizado o processo de calcificação do esmalte. Mas, alguns estudos demonstram a ocorrência de fluorose no esmalte de dentes decíduos e atribuem isso à capacidade do flúor ultrapassar a barreira placentária, alertando-nos para o risco de ingestão excessiva de flúor por gestantes.

“Considerando a fluorose uma condição que afeta principalmente os dentes permanentes (pois são os germes desses dentes que sofrem o processo de mineralização mais tardiamente), é importante destacar que o período de maior vulnerabilidade da dentição permanente é durante o seu processo ativo de calcificação do esmalte, que vai a partir dos 22 a 26 meses de vida da criança (primeira infância), até por volta dos 7 anos de idade. Nessa fase, se houver ingestão excessiva e frequente de concentrações mais elevadas de flúor, existe uma grande possibilidade de um grupo de dentes apresentar fluorose”, alerta a dentista.

Taíssa Leite diz que, atualmente, há diversas alternativas de acesso ao flúor, seja por via sistêmica ou por recursos de uso tópico. No Brasil, o método sistêmico adotado para se ter benefício do flúor como recurso na prevenção da doença cárie é a fluoretação da água de abastecimento público.

“Da mesma forma, também contamos com esse benefício por meio dos recursos de uso tópico como: cremes dentais fluoretados; os enxaguantes bucais contendo flúor e as aplicações clínicas feitas pelo dentista”, aponta a profissional.

No contexto da fluorose, prossegue ela, as formas mais preocupantes de ingestão excessiva e prolongada do flúor seriam por meio da água de abastecimento público e a ingestão diária e frequente de creme dental fluoretado ou de soluções para bochecho contendo flúor.

“Em relação ao uso tópico profissional – pensemos naquele flúor em gel aplicado pelo dentista nas consultas de prevenção –, este não representa risco, especialmente devido aos cuidados técnicos adotados durante a aplicação: uso de sugador, pequena quantidade, estímulo a cuspir após a aplicação”, tranquiliza Taíssa.

A odontóloga ressalta que a quantidade de flúor na água de abastecimento, até certo ponto, foge de nosso controle diário por ser de responsabilidade dos governos, por meio das Estações de Tratamento de Água. Estudos descrevem associação positiva entre locais servidos com água de abastecimento fluoretada e a presença de fluorose dental no Brasil e no mundo, sendo a prevalência da doença diretamente proporcional à concentração da substância na água. Dentre os principais problemas, informa, tem-se a dificuldade em manter sistemas operacionais de monitoramento dos níveis ótimos de flúor na água, e essa é uma questão amplamente discutida desde o início da década de 80. 

Por outro lado, Taíssa Leite lembra que o consumo diário e frequente de creme dental por crianças menores de 6 anos é algo que depende diretamente do controle de um adulto. Segundo ela, os odontopediatras relatam, na literatura, que crianças menores de 5 anos podem chegar a ingerir aproximadamente 30% do dentifrício durante a escovação. Portanto, a depender da quantidade de creme dental fluoretado colocado na escova, se houver a ingestão desse dentifrício durante três escovações diárias, uma concentração excessiva de flúor será ingerida e, possivelmente, em doses acima das recomendadas para prevenção da fluorose. Acrescenta que estudos demonstram associação positiva entre ingestão de dentifrícios na primeira infância e a alta prevalência de fluorose dental.

“Portanto a prevenção está diretamente relacionada à orientação de pais e cuidadores e à supervisão da escovação dentária com creme dental fluoretado, até que a criança aprenda a enxaguar e cuspir adequadamente o resíduo de creme dental e até que se tenha total confiança de que ela fará isso em todas as escovações”, orienta.

Taíssa Leite fala que o entendimento da prevenção da fluorose vai desde as consultas de pré-natal odontológico, indicadas para gestantes, nas quais são dadas as devidas orientações de cuidados bucais com o bebê após o nascimento. 

“Tal entendimento é reforçado nas primeiras consultas do bebê com o odontopediatra, independentemente de ter aparecido ou não o primeiro dentinho, e onde são enfatizados os melhores recursos para higienização bucal e os benefícios do uso do flúor”, completa.

De acordo com a profissional da Divisão Odontológica do TJMA, há evidências favoráveis para o uso de creme dental fluoretado para bebês, na concentração convencional (1.000 ppm), desde o nascimento do primeiro dente e, atualmente, esta é a recomendação das Associações Americana e Brasileira de Odontopediatria. As principais ressalvas em relação a essa conduta são a quantidade de creme dental na escova, que deve ser menor que um grão de arroz, e a frequência de uso, que deve ser de no máximo 2 vezes por dia, para crianças que não sabem cuspir.

“E atenção, mamães, papais e cuidadores, se você deixa o creme dental infantil, docinho, colorido e com flúor ao alcance da criança e percebe que o tubo está acabando muito rápido, desconfie: alguém pode estar consumindo esse creme dental não apenas nas escovações”, alerta mais uma vez Taíssa. 

A odontóloga repassa algumas informações importantes para desmistificar a fluorose:
    • não é uma condição hereditária;
    • não passa de uma dentição para outra;
    • não acomete dentes já irrompidos na boca;
    • não piora com o uso tópico do flúor;
    • não afeta a resistência do dente à cárie (a doença cárie é multifatorial).

“Não tenham dúvida que a fluorose dental é um problema relevante no contexto da Odontologia porque, além do comprometimento estético causado pelo manchamento do esmalte e, até certo ponto, o impacto causado na autoestima das pessoas, há o comprometimento funcional nos casos mais severos, devido ao risco de fratura do esmalte e exposição de áreas sensíveis, levando, em alguns casos, à necessidade de procedimentos restauradores mais complexos. As visitas periódicas ao dentista, além de contribuírem para aumentar o nível de informação sobre essa e outras condições, são essenciais para adoção de medidas terapêuticas conservadores nos casos mais severos”, finaliza Taíssa Leite.

 
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