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Judiciário brasileiro lança campanha inédita de enfrentamento ao feminicídio

Campanha de evento do Fonavid em parceria com TJMA aposta na educação e na comunicação como ferramentas de conscientização na luta contra a violência doméstica, com base em metodologia de Paulo Freire

Publicado em 14 de Nov de 2025, 10h02. Atualizado em 14 de Nov de 2025, 11h44
Por Asscom/TJMA

Compreender os sinais que antecedem o feminicídio é uma das principais preocupações do Poder Judiciário e de toda a rede que atua no enfrentamento, prevenção e acolhimento às vítimas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Como forma de auxiliar nas estratégias de enfrentamento, magistradas e magistrados de todo o Brasil, reunidos no XVII Encontro Anual do Fórum Nacional de Juízas e Juízes de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Fonavid), em São Luís, lançaram a campanha nacional “Judiciário pelo fim do feminicídio”, nesta quinta-feira (13/11).

A imagem é uma foto aérea (ou de ângulo elevado) que mostra um grande grupo de pessoas reunidas em um gramado ao ar livre, possivelmente durante um evento.

Pessoas e Ação: Centenas de indivíduos, a maioria vestindo camisetas vermelhas ou laranjas, estão dispostos em uma formação semicircular ou em forma de coração. Quase todos estão com os braços levantados em sinal de entusiasmo ou participação.

Mensagem Central: No meio do grupo, uma faixa laranja está sendo segurada, com uma inscrição visível que faz referência ao "FEMINICÍDIO" (como na imagem anterior).

Ambiente: O evento ocorre em uma área de gramado verde bem cuidado, cercada por um muro verde e com palmeiras ao fundo. No plano de fundo, há uma estrada ou pista.

Conclusão: É um registro de uma grande mobilização ou evento de conscientização, onde a maioria dos participantes expressa apoio à causa do fim do feminicídio.

Elaborada com base na metodologia da pergunta, de Paulo Freire, a campanha propõe questionamentos e esclarecimentos às mulheres, de modo a favorecer a identificação de situações de possível risco que possam evoluir para o feminicídio. O evento que reúne cerca de 300 participantes e será encerrado nesta sexta-feira (14/11), é promovido pelo Fonavid, em parceria com o TJMA, por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar. 

O presidente da Cemulher/TJMA, desembargador Cleones Seabra, participou do lançamento da campanha, destacando o objetivo do Judiciário de atuar de forma mais acentuada para tentar reduzir o feminicídio a zero. 

A imagem é um registro de um discurso ou cerimônia de um evento ao ar livre, no final da tarde ou início da noite.

Ponto Focal: Um homem de meia-idade, vestindo uma camiseta laranja, calça marrom e segurando um microfone, está falando no centro da imagem.

Participantes: Ele está cercado por um pequeno grupo de pessoas, todas vestindo camisetas laranja com a mensagem "JUDICIÁRIO PELO FIM DO FEMINICÍDIO" (e o desenho de mãos), indicando a natureza da causa ou evento.

Contexto: Ao fundo, há palmeiras e um prédio moderno e branco, sugerindo um resort, hotel ou condomínio. Há também uma mesa com equipamento de som (DJ ou técnico).

Ambiente: O evento ocorre em um gramado

É difícil, é quase impossível, mas como dizia Dom Helder Câmara, “um sonho que a gente sonha sozinho é apenas um sonho. E um sonho que nós estamos sonhando juntos se torna realidade. E aqui estão quase 400 juízes do Brasil todo sonhando esse sonho. Todo o Judiciário brasileiro contra o Feminicídio, contra a morte das nossas mulheres”, destacou.

De acordo com o presidente do Fórum, juiz Francisco Tojal, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), a conscientização é fundamental para o enfrentamento da violência de gênero.

É inconcebível que, todos os dias, quatro mulheres percam a vida no Brasil pelo simples fato de serem mulheres. A campanha ‘Judiciário pelo fim do feminicídio’ pretende, por meio da educação e da comunicação, contribuir para as estratégias de combate a esse crime”, destaca.

O magistrado ressalta que a campanha é voltada a toda a sociedade. “A violência contra a mulher é perversamente democrática. Atinge todas as esferas sociais. Mas é nas camadas mais humildes e vulneráveis que encontra suas principais vítimas: mulheres pretas e das periferias”, exemplifica.

Francisco Tojal acrescenta que a iniciativa integra uma ampla estratégia que envolve os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo, além da imprensa e da sociedade civil. “É muito mais do que uma campanha, é uma mobilização nacional, permanente e inédita do Fonavid. O mote da nossa campanha é que o feminicídio não acontece de repente, ele dá sinais”, frisou o presidente do Fonavid.

A juíza Luciana Rocha, membra honorária e ex-presidente do Fonavid, destacou os objetivos da campanha nacional, mencionando as quatro fases necessárias para avaliação do risco: identificação, avaliação, gravidade e estratégias de gestão integrada em rede, avaliação continuada e monitoramento. 

A rede precisa saber quais são os sinais preditivos da violência, quais são os estopins que frequentemente se repetem nos casos de feminicídio, para adotarmos as estratégias integradas. Mas não só a rede. Identificar fatores de risco é importante para a sociedade, é importante para as mulheres em situação de violência e para os homens em situação de violência”, apontou.

A imagem, capturada com uma lente grande angular (estilo fish-eye), retrata um grande grupo de pessoas reunidas em torno de uma enorme lona/faixa laranja que está sendo esticada.

Pessoas e Ação: Os participantes, a maioria vestindo camisetas vermelhas ou laranjas com inscrições de um evento (possivelmente o Fonavid, com a frase "PELA ÚLTIMA VÍTIMA"), estão de pé em um círculo. Muitos deles estão com os braços levantados em sinal de engajamento ou celebração.

Ponto Focal: A faixa laranja no centro tem um texto que, apesar de parcialmente ilegível devido ao ângulo, é relacionado à causa do combate à violência contra a mulher ou feminicídio (consistente com as imagens anteriores).

Ambiente: O evento ocorre ao ar livre, em um gramado, com muitas palmeiras e um grande edifício branco moderno ao fundo sob um céu azul.

PALESTRA
 
O quarto e penúltimo dia do encontro foi marcado pelo bloco “Justiça em transformação: quais os novos caminhos para um enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher mais efetivo?”.

A desembargadora Daisy Pereira, do TJPE, brindou o público com a exibição prévia de um episódio do projeto que a instituição produz sobre a masculinidade de jovens estudantes do estado, mostrando que ela é ensinada desde cedo: na família, na escola, nas brincadeiras de rua, na novela e no celular. O vídeo propõe à família ensinar a ouvir, dividir e cuidar, para que os meninos não cresçam com a ideia de que ser homem é competir e mandar.

O painel “Políticas públicas de prevenção para garantia de acesso à justiça às mulheres em situação de violência doméstica e familiar”, teve como palestrante a professora Marília Montenegro, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Católica de Pernambuco.

Foto horizontal do XVII Fonavid. Nesta foto, aparecem duas pessoas sentadas em um sofá. A pessoa à direita é uma mulher de cabelos loiros/grisalhos, óculos de aro escuro, vestindo uma blusa preta sobre uma peça de roupa laranja e calças claras. Ela está segurando um microfone com a mão direita e está falando. A pessoa à esquerda é um homem de óculos de aro escuro, vestindo um blazer azul sobre uma camiseta laranja com um desenho de mãos (que se assemelha a um símbolo de direitos ou ativismo) e calças claras. Ele está segurando uma caneta e um bloco de notas. O fundo é um painel de LED com a imagem de um edifício histórico em tons de azul e branco, e um detalhe de arte com cores vibrantes (laranja, azul, amarelo).

Ela falou sobre o crescimento da política criminal, em detrimento das políticas públicas, nos quase 20 anos da Lei Maria da Penha. Disse ser uma reflexão importante sobre a expansão de tipos penais e o aumento das penas, que às vezes mudam o foco de prioridades.

Sobre as políticas públicas, disse ser difícil estabelecer as mais necessárias de forma geral, em razão da complexidade da temática num país com muitas regiões e diversidades, mas citou as questões da área de saúde. 

Da saúde mental, das questões de dependência química, que são pontos bastante demandados nas varas de violência doméstica, tanto pelas mulheres e, inclusive, para o olhar sobre isso com relação aos homens”, explicou.

Marília Montenegro citou pesquisas que mostram o comportamento de mulheres vítimas de violência que, muitas vezes, não entendem o que se passou numa audiência de conciliação ou durante um processo.

Por outro lado, apontou a posição do agressor em audiências de custódia, que exclui a culpa de sua situação ao próprio comportamento ou a supostas ações da polícia, do Judiciário e do Ministério Público, e a atribui exclusivamente à vítima.

“Cada ato que essas pessoas fazem com relação ao tratamento desse réu, significa dizer que ele vai descontar – cada ato desse – na vítima”, avaliou.

A professora também apresentou questionamentos sobre alternativas penais, como a quem servem e quais vidas buscam preservar.

RODA DE DIÁLOGOS

Em seguida, houve uma roda de diálogos, com profissionais acadêmicas e de órgãos do sistema de justiça e de segurança pública. O presidente do Fonavid, juiz Francisco Tojal, pediu que cada uma falasse sobre suas atribuições no sistema de justiça e quais as prioridades das instituições que representam.

Foto horizontal do XVII Fonavid. Esta foto mostra uma "Roda de Diálogos" em um evento do XVII Fonavid. Há um palco elevado. No centro do palco, estão oito mulheres sentadas em cadeiras ou poltronas. Atrás delas, há uma grande tela de LED preta que exibe a palavra "ESPERANÇAR" em letras brancas e maiúsculas. À esquerda da tela, nota-se uma bandeira do Brasil e outra bandeira. Na lateral direita do palco, há uma pessoa em pé, vestindo camisa branca e calça escura. O teto é escuro. Dois grandes lustres de cristal pendurados, iluminando o ambiente. Paredes laterais claras. O plano inferior mostra um grande público sentado em fileiras de cadeiras escuras, virado para o palco. Muitas pessoas na plateia vestem roupas nas cores laranja e preta. No lado esquerdo da plateia, uma pessoa está em pé, tirando uma foto do palco com um celular.

Dentre as colocações, a juíza auxiliar da Presidência do CNJ, Suzana Hirama, disse que a instituição tem como prioridades, na gestão 2025/2027, “o enfrentamento e prevenção do feminicídio e o acesso à justiça da mulher em situação de violência”.

A doutora e mestra em Direito Constitucional e Teoria do Estado, Thula Pires, falou sobre a necessidade de comprometimento das pessoas envolvidas no sistema de justiça, notadamente magistrados e magistradas, antes e após as decisões judiciais. Disse que ter responsabilidade com as decisões não é algo que termina a partir do momento em que a sentença é proferida. Entende que é preciso se envolver com muitos dos aspectos que fazem com que o caso tenha acontecido.

Pensar em prevenção faz parte, porque é um pouco pensar o que está gerando essa porta de entrada – e como pensar essa porta de entrada e como alterar essa porta de entrada. E a porta de saída não se dá no fim da sentença. Precisa pensar em modos de acompanhamento desses processos, que não sejam só protocolares, no modelo ‘lavei as mãos, proferi a sentença, fiz o melhor que eu pude’”, explicou.

Também participaram da roda de diálogos, a presidente do Colégio de Coordenadores da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário Brasileiro (Cocevid), desembargadora Nágila Brito, do TJBA; o presidente do Fonavid, Francisco Tojal; a chefe do Setor de Enfrentamento à Violência Doméstica de Familiar da Cevid/TJRR e presidente do Colégio de Equipes Multidisciplinares, Aurilene Mesquita; e a coordenadora-geral de Garantia de Direitos e Acesso à Justiça do Ministério das Mulheres, Ana Maria Martinez, além da palestrante Marília Montenegro.

Depois foi a vez da exposição de enunciados nas áreas de Medidas Protetivas e Cível, Criminal e Processual, Legislativo e Multidisciplinar. À tarde, foram realizadas as oficinas nas mesmas áreas.

Coordenadora da exposição sobre Medidas Protetivas e Cível, a juíza Lúcia Helena Heluy, da 2ª Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Luís, do TJMA, disse que os enunciados elaborados – recomendações e diretrizes utilizadas no cotidiano sobre interpretações da Lei Maria da Penha – visam ajustar a prática à lei.

Foto horizontal do XVII Fonavid. Esta foto mostra três mulheres em um ambiente externo. Uma mulher com cabelos castanhos escuros, vestindo uma camiseta laranja com a estampa branca "JUDICIÁRIO PELO FIM DO..." (o restante não é visível), segura um microfone preto e fala ou discursa. Ela usa brincos e um bracelete de cor dourada, e tem um anel grande no dedo anelar direito. Ela segura ou está próxima a uma caixa branca com detalhes em vermelho, parte da qual é visível na base da foto. Outra mulher, com óculos de aro escuro e cabelos escuros presos, veste uma camiseta laranja idêntica com a estampa "JUDICIÁRIO PELO FIM DO..." (visível a palavra "JUDICIÁRIO"). Ela segura duas caixas brancas empilhadas e olha para baixo ou para as caixas. Ao fundo, à direita, há uma terceira mulher em segundo plano, também vestindo a camiseta laranja. O fundo mostra uma área de grama ou vegetação à esquerda, e um edifício branco de dois andares com janelas. A luz sugere que a foto foi tirada no final da tarde ou início da noite.

“É a nossa prática se ajustando, servindo como diretriz para mais juízes. E a gente vai depois, aos poucos, esperando a lei se ajustar a esse entendimento que nós adotamos”, explicou a juíza. 

Acesse aqui o álbum completo produzido pelo fotógrafo Ribamar Pinheiro

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