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O que você precisa saber sobre Depressão

Depressão

Luiz Eduardo Cavalcanti  - Analista Judiciário - Médico Psiquiatria

A Depressão* é um dos transtornos mentais mais prevalentes. Estima-se que, ao longo da vida, até 25% das mulheres e 10 a 12% dos homens terão pelo menos um episódio depressivo. Ao longo de um ano, entre 6 a 8% da população podem apresentar um episódio depressivo. Segundo dados epidemiológicos dos EUA, a prevalência no sexo feminino é 1,5 a 3 vezes maior que no sexo masculino e a faixa etária entre 18-29 anos tem prevalência de depressão 3 vezes maior do que a faixa etária dos maiores de 60 anos. Especificamente no Brasil, os grupos de faixa etária formados por indivíduos de 18 a 34, 35 a 49 e 50 a 64 anos tiveram maiores chances de serem classificados como um caso ativo de depressão do que o grupo com faixa etária acima de 65 anos.

É um transtorno que tem tendência a ser episódico, apesar de muitos casos se tornarem crônicos e recorrentes, particularmente quando não tratados. A depressão tende a causar problemas em diversas áreas do funcionamento, incluindo educação, estabilidade de relacionamentos, emprego e sucesso financeiro. A depressão nos pais também pode causar impacto na saúde dos seus filhos, como exemplo a depressão materna perinatal está associada a efeitos adversos nas crianças que incluem maiores problemas com regulação emocional, transtornos internalizantes, transtornos comportamentais, hiperatividade, competências sociais reduzidas, insegurança nas relações, depressão na adolescência e efeitos negativos sobre o desenvolvimento cognitivo. Depressão é um fator de risco independente para doenças isquêmica coronariana e mortalidade cardiovascular. A presença de depressão aumenta substancialmente os níveis de disfuncionalidade e reduz qualidade de vida em indivíduos com condições clínicas crônicas, agindo desde a redução da adesão ao tratamento e diminuição dos cuidados de prevenção à saúde até sendo a causa direta de disfunções imunológicas, inflamatórias e metabólicas.

Segundo a OMS é a segunda principal causa de incapacidade no mundo, estando associada tanto ao absenteísmo (tempo afastado do trabalho) quando ao presenteísmo (perda de produtividade relacionada à doença durante o trabalho). Em Ontario, maior província do Canadá, a carga de doença da depressão sobre os Anos de Vida Ajustados à Saúde (HALYs) foi maior que a carga de doença combinada dos cânceres de mama, pulmão, colorretal e de próstata. Em função de sua alta prevalência, a depressão é o transtorno mental que está mais associado ao suicídio.

* (sinônimos: Transtorno Depressivo Maior, Episódio Depressivo, Depressão Unipolar)

Quando vale a pena passar por uma avaliação?

Segundo o CANMAT 2016, alguns fatores de risco que recomendam o rastreio de depressão são:

Fatores clínicos:

- Episódio depressivo anterior;

- Histórico familiar de depressão;

- Adversidades psicossociais;

- Usuários de serviços médicos em larga escala;

- Condições médicas crônicas (ex: doença cardiovascular, diabetes e doenças neurológicas);

- Outros transtornos psiquiátricos;

- Períodos de mudanças hormonais (ex.: periparto).

Fatores sintomáticos:

- Sintomas físicos sem explicação;

- Dor crônica;

- Fadiga;

- Insônia;

- Ansiedade;

- Uso de substâncias psicoativas.

Para o diagnóstico de um episódio depressivo, segundo a Classificação Internacional de Doenças em sua 10ª edição, pelo menos dois dos sintomas mais típicos da depressão devem estar presentes:

- Humor deprimido;

- Perda de interesse e prazer;

- Fatigabilidade aumentada.

Associados a pelo menos dois dos seguintes sintomas:

(a) concentração e atenção reduzidas;

(b) autoestima e autoconfiança reduzidas;

(c) ideias de culpa e inutilidade;

(d) visões desoladas e pessimistas do futuro;

(e) ideias e atos autolesivos ou suicídio;

(f) sono perturbado;

(g) apetite diminuído.

Esses sintomas devem estar presentes por, pelo menos, duas semanas. Se você reconhece esses sintomas em você mesmo ou em alguém próximo, busque a ajuda de um especialista.

Tratamento – O que funciona? (CANMAT; 2016)

O tratamento da depressão é dividido em duas fases. Na fase aguda, com duração de 8 a 12 semanas, os objetivos são a remissão dos sintomas e restauração do funcionamento do indivíduo. Na fase de manutenção, com duração de 6 a 24 meses ou mais, os objetivos são o retorno ao funcionamento pleno e promoção de qualidade de vida e prevenção de recaídas.

Psicoterapia

Recomendações de psicoterapia de primeira linha para episódios agudos de Depressão Maior incluem Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia Interpessoal e Ativação Comportamental. Tratamentos de segunda linha incluem psicoterapia baseada no computador e telefone. Quando possível, a combinação de tratamento psicológico com antidepressivos é recomendada porque o tratamento combinado é superior a cada um dos tratamentos individualmente. Tratamentos de primeira linha para manutenção incluem Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness. A preferência de cada paciente, combinada com tratamentos baseados em evidências e a capacidade clínica do sistema vão proporcionar as melhores estratégias de tratamento para obter resultados individuais satisfatórios na Depressão.

Tratamento farmacológico

Antidepressivos de segunda geração são tratamento de primeira linha para episódios depressivos de grau moderado a grave. Tratamentos farmacológicos podem ser usados na depressão leve, em algumas situações, como preferência do paciente, resposta anterior aos antidepressivos, falhas das intervenções não-farmacológicas. O médico deverá escolher o antidepressivo baseado em fatores do paciente como características clínicas, comorbidades, resposta e efeitos colaterais durante uso anterior de antidepressivos e preferência do paciente e fatores das medicações como eficácia, tolerabilidade, interações medicamentosas, simplicidade de uso, custo e disponibilidade.

Melhoras precoces com os medicamentos (entre 2 a semanas) estão relacionadas com resposta e remissão em 6 a 12 semanas. É recomendado manter o tratamento com antidepressivos por 6 a 9 meses depois de alcançar a remissão sintomática, enquanto aqueles com fatores de risco para recorrência devem estender o tratamento por 2 anos ou mais, mantendo sempre o acompanhamento com o médico assistente.

 

Neuroestimulação

 

Estimulação magnética transcraniana é considerado um dos mais novos tratamentos de primeira linha contra a depressão, naqueles pacientes que não responderam ao uso de, pelo menos, uma medicação. Eletroconvulsoterapia continua sendo um tratamento de segunda linha, seguro e eficaz, embora em algumas situações, como nas pacientes grávidas, pode ser considerado um tratamento de primeira linha.

 

Medicina Alternativa e Complementar

Em episódios depressivos de grau  leve a  moderado, exercícios físicos,  fototerapia,  erva de São João,  Ômega-3, S-adenosilmetionina e ioga pode ser recomendados como tratamentos de primeira ou segunda linha, em monoterapia ou associado a outros tratamentos eficazes, conforme indicação de um especialista.