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ESMAM treina novos facilitadores para atuação em grupos reflexivos de gênero

Os grupos visam a reeducação de homens que se envolveram em situação de violência doméstica, familiar ou afetiva contra mulheres

19/12/2022
Ascom ESMAM

FORMAÇÃO DE FACILITADORES EM GRUPOS REFLEXIVOS COM HOMENS

Com aulas teóricas e práticas, o curso tem duração de 40 horas, sendo parte na plataforma EAD ESMAM

foto/divulgação: ESMAM

A Escola Superior da Magistratura (ESMAM), em parceria com a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Maranhão (CEMULHER/TJMA), promoveu durante esse ano ações de qualificação inicial de facilitadores para atuação em grupos reflexivos com homens autores de violência doméstica, familiar ou afetiva contra mulheres. O objetivo é conscientizá-los sobre os diversos tipos de violência contra mulheres e incentivá-los a uma mudança de conduta quanto a essa problemática.

O desembargador Cleones Cunha, presidente da CEMULHER-TJMA, informa que há quase quinze anos a técnica de grupos reflexivos é aplicada no âmbito da Justiça maranhense e constitui uma ação de caráter preventivo, atuando para além da punição. O treinamento busca suprir uma lacuna existente na formação de facilitadores que possam atuar na implantação da ferramenta nos mais diversos municípios maranhenses, promovendo a correta qualificação para abordagem dos autores de violência.

O grupo reflexivo do Tribunal de Justiça do Maranhão recebe homens que geralmente têm sentença condenatória em uma Vara da Mulher ou estão com medida na 2ª Vara, unidade competente para conceder Medidas Protetivas de Urgência (MPUs) às mulheres vítimas de violência doméstica. Para integrar o grupo, eles se submetem à triagem feita por uma equipe multidisciplinar.

De 2008 - quando começou o projeto – até agora mais de 300 homens foram acompanhados pelos facilitadores. A equipe técnica da Vara da Mulher já está na etapa de entrevista e cadastramento dos que participarão das novas turmas do grupo reflexivo, previstas para começarem em março de 2023.

QUALIFICAÇÃO

Com o tema “Como trabalhar com homens autores de violência de gênero: noções para desenvolver o trabalho com grupos reflexivos”, os treinamentos são realizados na plataforma EAD ESMAM, reunindo cerca de 100 participantes, entre integrantes do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, sistema penitenciário, Centro de Referência Especializado de Assistência Social, Unidade de Acolhimento para Mulheres em Situação de Rua, estudantes e representantes das secretarias da Mulher de Caxias, Aldeias Altas e São João do Sóter. A carga horária da capacitação é de 40 horas-aula, além de mais duas etapas práticas.

A partir de uma metodologia dinâmica e participativa, o educador e psicólogo, Raimundo Pereira Filho, orienta os futuros facilitadores sobre os desafios para a “montagem” dos grupos reflexivos. Dentre os pontos destacados, enfatiza a importância da escolha do local onde os encontros vão acontecer e do “contrato de convivência”, elementos essenciais para que os participantes sintam-se à vontade. “A confiança estabelecida inicialmente é fundamental para a construção dos laços afetivos”, pontua.

Ao final do curso, os servidores e parceiros do Poder Judiciário do Maranhão passam a exercer a facilitação de grupos reflexivos de gênero, instrumentalizados sobre os principais conceitos, teorias, procedimentos na direção de grupo e demais encaminhamentos, assim como disseminar e implantar a experiência em sua realidade local.

O grupo recebe todo suporte do juiz e juízas titulares das três unidades judiciárias – Reginaldo de Jesus Cordeiro Júnior (1ª Vara), Lúcia Helena Barros Heluy (2ª Vara) e Samira Barros Heluy (3ª Vara). Também conta com o apoio da CEMULHER-TJMA, dialogando e buscando apoio na difusão dessa experiência com homens autores de violência. Além do psicólogo, integram a equipe de capacitação as assistentes sociais, Joseane Abrantes e Tatiana Carvalho.

RESSIGNIFICAÇÃO

Mestre em Ciências da Educação, o formador explica que, embora mudanças sejam alcançadas ao final do processo, a finalidade primeira não é promover transformações pessoais, mas possibilitar a ressignificação da conduta que esses homens assumem ao cometer atos de violência contra mulheres. A proposta considera as experiências próprias de cada sujeito, seus contextos cultural, social e familiar, reconhecendo que não é possível trabalhar com modelos prontos.

“O principal objetivo é fazer com que o autor de violência possa ressignificar seus atos, na relação com o outro, com a outra. É um processo no qual os primeiros passos consistem na desconstrução de verdades e crenças que levaram ao cometimento da violência, abrindo espaço para a reconstrução de novos valores, pautados no respeito e capazes de sedimentar um caminho de tolerância na convivência”, pontua.

CONSCIENTIZAÇÃO

Nas unidades, são comuns os relatos de homens que praticavam determinados tipos de violência sem ter a consciência da mesma. Um exemplo são os que não permitem que a mulher trabalhe fora de casa, conduta herdada da cultura machista repassada por gerações.

Um vendedor ambulante, 37 anos, que tem dois filhos pequenos, participa do grupo reflexivo desde o início de 2022, conta que levou, principalmente para o relacionamento com os filhos, o aprendizado que adquiriu no grupo. “Estou com a guarda compartilhada e hoje não tenho conflito com a minha ex-mulher”, afirma.

Outro participante, um metalúrgico de 52 anos, diz que integrar o grupo reflexivo mudou completamente não apenas o seu relacionamento com a família, mas também com os colegas de trabalho, por exemplo. “Vi muitas mudanças acontecerem no meu ambiente doméstico este ano. Eu era muito irritado, explosivo e aqui me conscientizei, como o próprio nome do grupo sugere, a refletir antes de agir. No dia a dia ocorrem momentos em que explodimos e passei a usar as ferramentas aprendidas aqui para me desvencilhar das situações que me levam a perder o controle”, relata. Ele conseguiu resgatar o seu casamento e vive com a mulher e os dois filhos que na época da violência doméstica eram adolescentes.

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