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Campanha Dicas de Saúde alerta para envelhecimento precoce bucal

Aparecida Chaves, da Divisão Odontológica do TJMA, explica que houve aumento nos atendimentos a pacientes cada vez mais jovens, em condição incompatível com a idade cronológica

Publicado em 13 de Jan de 2025, 8h00. Atualizado em 10 de Jan de 2025, 13h46
Por Ascom/TJMA

A campanha “Dicas de Saúde”, do Tribunal de Justiça do Maranhão, alerta que o envelhecimento bucal está acontecendo de forma muito precoce nos últimos anos, tornando-se comum em adultos jovens – manifestações clínicas estas que são normais apenas em pacientes idosos. A dentista Aparecida Chaves, da Divisão Odontológica do TJMA, explica as condições clínicas desfavoráveis que caracterizam a situação.

De acordo com Aparecida Chaves, a cárie era a condição patológica que mais demandava atendimento odontológico. Hoje, na rotina clínica, é observado que o número de casos de pacientes com a doença cárie vem diminuindo ano após ano.

“O dentista aprendeu a controlar, a orientar e a prevenir a cárie, e o paciente já tem esse conhecimento, então, obviamente, devido a diversas medidas que foram realizadas nos últimos 30 a 40 anos, esses números vêm caindo, ano a ano. Muito se achou que não teríamos mais problemas de saúde bucal, acreditava-se que resolver a doença cárie eliminaria vários procedimentos dentro da odontologia”, destaca a odontóloga.

A profissional da Divisão Odontológica do TJMA narra que, por volta de 12 a 15 anos atrás, passou-se então a perceber que uma outra doença começou a crescer. Houve um aumento do número de atendimentos a pacientes jovens apresentando trincas, fraturas e amarelamentos dentários. 

“E quando nos referimos ao envelhecimento bucal, fala-se do dente, do esmalte, da dentina, da polpa, envelhecimento ósseo, muscular e articular. Tudo que se fala hoje envolvendo o envelhecimento da cavidade bucal – se isso acontecesse de forma cronológica – não haveria problema; nossos dentes, de fato, eles vão envelhecer; isso acontece e é o que a gente espera”, explica.

No entanto, prossegue a odontóloga, o que se tem observado é que o envelhecimento bucal está acontecendo de forma muito precoce e, quando manifestado em jovens adultos, ele passa a ser considerado como uma patologia. 

“Esta patologia está ligada a manifestações odontológicas nocivas incompatíveis com a idade fisiológica (cronológica) do indivíduo, com características clínicas normalmente identificadas em idosos, porém, agora presentes em pessoas que têm bem menos idade”, acrescenta.

CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS

“O que acontece hoje com muita frequência em pacientes jovens é de eles não possuírem nenhuma restauração na boca, não apresentar uma cárie, aparentemente se vê um sorriso bonito, um sorriso saudável, com padrões de higiene bucal favoráveis, mas condições clínicas desfavoráveis, com desmineralização do esmalte dentário, presenças de fraturas e trincas, hipersensibilidade dentinária, recessões gengivais provocadas por reabsorções ósseas, lesões não cariosas e consequentes danos pulpares reversíveis e irreversíveis não associados com acúmulo de placa bacteriana”, avalia Aparecida Chaves.

Segundo ela, o primeiro sinal clínico do envelhecimento precoce bucal começa pela hipersensibilidade da dentina. 

“A hipersensibilidade não é um sintoma, não é uma dorzinha, é algo que de fato impacta a qualidade de vida, impacta o social, o psicológico e o mental do paciente. A OMS classifica como doença na cavidade bucal tudo aquilo que tem um impacto social e na qualidade de vida do paciente. A hipersensibilidade é o primeiro sinal clínico de que esse paciente não está bem, de que alguma coisa está acontecendo, principalmente quando se fala de pacientes adultos jovens com menos de 35 anos de idade”, aponta.

A odontóloga reforça que a hipersensibilidade da dentina é o primeiro sinal clínico, o primeiro sintoma, contudo não se deve se preocupar somente com o sintoma, mas buscar a causa. 

“Estudos avaliam o reflexo da pandemia da Covid-19 na quantidade de fraturas dentárias, na quantidade de pacientes que fraturaram placas, na quantidade de pacientes que não usavam placa que passaram a usar. Então, todo o contexto de vida que a gente estava vivendo até 2019, aumentou a partir do momento em que a gente teve uma pandemia. E, em 2019, a gente já vivia um contexto de estilo de vida muito diferente do que era 40 anos atrás”, compara.

BRASIL ANSIOSO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), relata a dentista, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. 

“Pensando no mundo em que vivemos hoje, nesse estilo de vida mais estressante, mais ansioso, de maior cobrança, observamos cada vez mais relatos de pacientes com transtorno de ansiedade e com depressão, e o reflexo disso, para a saúde bucal, é de que mais pessoas apertem os dentes, desenvolvam bruxismo, apresentem trincas no esmalte, facetas de desgaste, fraturas dentárias, tratamentos endodônticos, quebra de restaurações”, destaca.

Aparecida Chaves conta que os hábitos e o estilo de vida atual impactam na saúde bucal, e o envelhecimento precoce bucal é a doença dessa geração. 

“Tivemos, também, mudança no perfil do paciente: a rede social gera uma série de exigências nas pessoas, nunca houve uma pressão tão grande por uma questão de aparecer, de postar, de estética, nunca se viveu o mundo em que essa cobrança foi tão viva”, avalia.

A odontóloga insiste que é importante estar atento aos fatores causadores, como estresse, ansiedade, depressão, refluxo gastroesofágico, dietas ácidas, hábito de roer unhas, bruxismo de esporte, pacientes pós-tratamentos ortodônticos, pacientes pós bariátricos, características da saliva, uso de medicamentos, distúrbios do sono, dentre outras causas “que predispõem ao maior risco de desenvolver lesões cervicais não cariosas, condições que têm o potencial de levar à dor e hipersensibilidade dentinária”.

A dentista afirma que, hoje, já se sabe que o envelhecimento precoce bucal não está relacionado a apenas um mecanismo de desgaste e que sempre vão acontecer dois ou mais fatores causadores relacionados, por ser uma doença multifatorial. 

“Por ser uma doença em que vários fatores estão envolvidos, provocada por doenças sistêmicas, influência de novos hábitos e mudança de estilo de vida, o dentista, de maneira singular, não é capaz de tratar ou controlar a causa da patologia. Esta condição necessita de tratamento, a partir de sua tipologia de causa, para que não haja progressão. Para isso, a presença de profissionais de outras áreas, como a Nutrição, Gastrologia, Psicologia, Psiquiatria e etc, em conjunto com o cirurgião-dentista, para que trabalhem no tratamento desta condição patológica, a fim de interromper a progressão da doença, remodelar o paciente e, num momento posterior, reverter a estética adquirida pela doença, de modo a trazer ao paciente a jovialidade do sorriso”, adverte.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do “Envelhecimento Precoce Bucal” – prossegue a odontóloga – em geral é realizado de forma tardia: “uma vez que os pacientes, em geral, não buscam tratamento para lesões cervicais não cariosas, até que elas estejam em um estado avançado, comprometendo a estética ou causando sensibilidade dentinária e dor”. 

Ela relata que esse controle do envelhecimento precoce bucal é muito mais complexo do que se imagina, e constitui-se uma preocupação para a Odontologia na atualidade, pois a condição que é manifestada na boca, na maioria dos casos, salvo se for um paciente pós-tratamento ortodôntico, tem seu início em áreas que não competem aos domínios da Odontologia.

“O estilo de vida mudou, a doença também mudou, e hoje estamos diante de um desafio muito mais complexo do que a cárie foi para nós. A educação e o autoconhecimento pelo paciente de suas condições de saúde ajudarão a enfrentar o envelhecimento precoce bucal. Para isso, busque a orientação de seu dentista. Ele lhe ajudará na identificação e prevenção de problemas de saúde que afetam a cavidade bucal, a prolongar a longevidade dos tratamentos dentários, indicar a necessidade de mudanças de hábitos e comportamentos e, quando necessário, encaminhar para outros profissionais da área da saúde, a fim de promover tanto a saúde bucal como o bem-estar geral dos pacientes”, finaliza Aparecida Chaves.

Agência TJMA de Notícias
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